quinta-feira, novembro 24, 2005

Licenças OEM da Microsoft. Justiça?

Compreendo a necessidade que a Microsoft tem de tentar proteger a sua propriedade intelectual. No website da Microsoft Portugal existe até uma secção onde é explicado, aos utilizadores, o que é a pirataria (não a dos gajos maus que atacam barcos), como é que a pirataria afecta os comuns utilizadores e porque motivos, activando um produto Microsoft, o utilizador fica protegido (contra quê, é o que falta saber).

Eu pessoalmente sou contra a utilização indevida de software proprietário para trabalho. Quem utiliza software deste tipo e ganha dinheiro com isso, é mais que justo que tenha o software devidamente licenciado. Não quer pagar pelo software? Então utilize software livre! Tem óptimas alternativas, não fica preso a nenhum fornecedor proprietário, não gasta tanto ou não gasta nada e tem todo o software legal.

Contudo, também acho que a Microsoft está a ir longe demais. Esta não parece reconhecer a existência de outros sistemas operativos. Devido ao seu monopólio e concorrência desleal conseguiu forçar todos os vendedores e fabricantes de computadores a vender juntamente com um novo computador uma licença OEM do seu sistema operativo. (Mas esta situação está lentamente a mudar, como se pode ler no meu post anterior.)

No site da Microsoft Portugal está mesmo declarado que: "Quando compra um novo PC, deve vir incluido software do Sistema Operativo da Microsoft, tal como o Microsoft Windows". Como??? E se eu não quiser o windows porque apenas trabalho com outro sistema operativo? Vou ser obrigado a pagar por uma coisa que não quero e que não utilizo? Não me parece justo!



Mas as licenças OEM da Microsoft são injustas mesmo para os seus utilizadores cumpridores. As grandes empresas e as instituições públicas (ministérios, escolas, universidades, etc) normalmente fazem contratos de licenciamento para o seu universo de utilizadores. Estas contratos podem abranger centenas ou milhares de utilizadores num único contrato. E a questão que estou a levantar é a seguinte: Se todos estes utilizadores já estão devidamente licenciados, nas novas máquinas que sejam compradas também são pagas as licenças OEM? Se sim, a Microsoft está a vender duas vezes o mesmo artigo o que não me parece honesto (ou legal!). Analisando por outro prisma, as empresas Portuguesas estão a pagar duas vezes pelo mesmo artigo e as instituições públicas estão a gastar o dobro do dinheiro público que deveriam no mesmo artigo. Não é preciso. O Bill Gates já tem muito dinheiro.

Não haverá neste país nenhuma entidade competente que repare nesta situação? DECO? Algum ministério?

Fica a ideia...

Portátil Linux (e sem licença OEM da M$)

Este Natal decidi comprar um novo portátil para substituir o meu ASUS actual, que já soma quatro anos de idade. Como apenas utilizo o sistema operativo Linux, tive em consideração dois aspectos que considero importantes:

1. A compatibilidade do hardware com o sistema operativo Linux. Comprar a última tecnologia disponível de algumas marcas pode dar maus resultados. Algumas marcas (Sony, Dell, Asus, ...) simplesmente não se preocupam com mais nada que não seja o Windows. O meu ASUS actual teve de esperar um ano para ter o suporte gráfico totalmente suportado.

2. A isenção do preço da licença OEM da Microsoft. Por uma questão de princípio. Se não utilizo este sistema não é justo que pague uma licença por ele.

Foi complicado! Encontrar uma empresa que vendesse portáteis sem sistema operativo (subtraindo, claro, o preço respectivo da licença OEM ao preço da máquina) foi muito complicado. Nas lojas disponíveis nos grandes centros comerciais, os funcionários que abordei nem sabiam o que era o Linux. Mais improvável ainda era venderem-me uma máquina nas condições que eu queria. Desisti. Comecei a procurar modelos em sites internacionais que vendem portáteis com o Linux pré-instalado. Através dos sites tuxmobil.org e linux.org descobri alguns interessantes. Os meus preferidos são:

www.emperorlinux.com
www.linuxcertified.com

Foi bom verificar que nestas empresas já impera o bom senso. O cliente apenas paga a licença OEM da Microsoft se quiser o portátil instalado em dual-boot (Linux+Windows). Estava mesmo a decidir-me por um destes modelos até que descobri, cá em Portugal, uma loja que começou a vender portáteis e computadores com o sistema operativo opcional. É verdade!!! Tive de me beliscar para ter a certeza que era verdade. Esta empresa é a PowerOn e está a vender uns portáteis muito engraçados da Tsunami que são montados inteiramente em Portugal, mais especificamente em Matosinhos, pela empresa J.P. Sá Couto. O catálogo com as diversas opções pode ser obtido aqui.

A PowerOn permitiu inclusive que eu testasse o hardware com duas versões live de Linux. Posso portanto confirmar que com o DVD do Knoppix 4.0 e com o CD do Ubuntu 5.10 o hardware do Tsunami Traveller F12D é todo reconhecido. Não tive oportunidade de fazer testes exaustivos mas não encontrei defeitos nos testes que efectuei.

Obrigado PowerOn.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Cinema AMC - Programas

Quem é que escreve as descrições dos filmes que aparecem nos programas dos cinemas AMC? Se isto fosse uma empresa pública, diria que era uma acessora do ministro com o mesmo sobrenome deste, mas não. Os cinemas AMC são, que eu saiba, uma empresa privada. Então, porque motivo é que eles toleram um funcionário que quando comenta os filmes, na maior parte das vezes, não parece saber o que está a escrever? Tenho mesmo a certeza que em alguns casos nem sequer conhece o filme em questão. Dou como exemplo o Senhor dos Anéis em que a descrição até fazia rir. Mas porque estou a falar disto agora? Este fim de semana fui a este cinema e ao ler no programa a descrição do, ainda por estrear, Harry Potter fiquei a saber, inadvertidamente, uma parte do final. :( Sim, é verdade! Eu não sei a história porque não li os livros, mas ando a acompanhar a aventura destes heróis através dos filmes. Graças à pessoa que escreve estes resumos, fiquei com este estragado. Muito obrigado...

Tenha atenção!!! Se como eu não leu os livros e não quer estragar o final do próximo filme, não leia o programa dos cinemas AMC.

terça-feira, novembro 15, 2005

CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA

Não fui eu que escrevi mas... diabos me levem se não andava com vontade de escrever um texto destes. Fantástico!!! Concordo a 99%. Só não concordo a 100% porque sou dos poucos otários que contra tudo e contra todos tenta viver a vida da forma mais correcta possível.

"Eduardo Prado Coelho - in Público

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para
eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos,
a ver se nos mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!

EDUARDO PRADO COELHO"

quinta-feira, setembro 01, 2005

A carta de condução informática

Se uma pessoa quer conduzir um carro, é obrigada por lei a assistir a aulas de código e aulas de condução, ou seja, aprende um pouco de teoria e um pouco de prática. Não quer com isto dizer que saiba construir um carro novo, mas fica a saber utilizá-lo, espera-se que pelo menos, minimamente.

Com os computadores isso não acontece. Uma pessoa decide que quer um computador. Ouviu o vizinho dizer que dá para fazer umas coisas engraçadas, como navegar na Internet, ver filmes, ouvir música, fazer os trabalhos de casa,... daqui a nada parece um anúncio da Tampax. Mas contrariamente ao que acontece para conduzir um carro, não é obrigatório ter conhecimentos mínimos para poder utilizar um computador. Fica já aqui um aviso para as pessoas que ainda não perceberam a diferença: Um computador não é uma torradeira nem uma aparelhagem!!!

Existem alguns temas que considero essenciais dominar, para quem precisa de começar a manusear um computador, independentemente do sistema operativo utilizado:


  1. noções acerca do sistema de pastas e ficheiros (criar, gravar, apagar, alterar o nome, etc);


  2. configurar a rede (por telefone, por cabo, IP fixo, IP dinâmico, sem fios);


  3. configurar o Firefox (não disse IE, foi de propósito! ;));


  4. entender como funciona o correio electrónico e configurar um cliente respectivo (POP ou IMAP), preferencialmente o Thunderbird ;).



Curiosamente as pessoas aprendem outras coisas primeiro, como por exemplo: messenger, ouvir rádios online, mp3, jogos, piratear CDs, etc. Hoje em dia, saber gravar um CD ou DVD também é importante, senão abre-se a oportunidade para a realização de perguntas idiotas como se pode observar na figura a seguir.



Mas nada disto acontecia se existisse uma carta de condução informática (CCI) obrigatória, para os interessados em comprar um computador. Imaginem o seguinte cenário:


(Um cliente interessado entra numa loja de informática e dirige-se a um vendedor)

Cliente: Olá, bom dia.
Vendedor: Bom dia. Posso ajudá-lo em alguma coisa?
Cliente: Queria comprar um computador. O que me aconselha?

(Só esta pergunta já denuncia um potencial poço de problemas!!!)

Vendedor (Já com cara de desconfiado): Posso ver a sua carta de condução informática?
Cliente (atrapalhado): Não tenho. É preciso?

(E agora o complemento Português)

Cliente: Ande lá. Faça-me o "jeitinho"...

Vendedor (A ficar arreliado): O senhor primeiro precisa de tirar a CCI e depois então passe por cá. Para já, "desampare-me" a loja!!!

(O cliente sai cabisbaixo...)


A CCI é o Santo Graal dos profissionais da área que todos os dias aturam situações que podem ir do cómico ao ridículo.

quarta-feira, julho 20, 2005

Carta aberta à redacção do suplemento BITS & BYTES

Saudações e parabéns pelo vosso suplemento. Apesar das palavras menos boas que vos vou dirigir daqui a nada, eu e os meus colegas de trabalho ansiamos pela Sexta-feira, não só por causa do fim de semana, mas também pela saída do suplemento BITS & BYTES. Em relação a este, fiquei bastante satisfeito com ele desde o primeiro número por incluir, como parte do formato, imensas rubricas dedicadas ao Linux. Finalmente uma publicação Portuguesa que tem a coragem de o fazer. Até então, a imprensa da especialidade não tem ido além de alguns artigos, de longe a longe, mas nunca com a proporção do vosso suplemento. De destacar (ou melhor, de relembrar, uma vez que já não é feita hà bastante tempo) entre as vossas rubricas, a secção: "O Linux também pode" onde acho que por vezes foram um pouco modestos. Geralmente o Linux podia mais, os melhores produtos Open Source também existem para Windows e mesmo Mac (permitindo assim serem experimentados sem ser necessário mudar de sistema operativo), como por exemplo: Firefox, Thunderbird, Gimp, OpenOffice, etc. Além disso, numa ocasião ou outra, o programa seleccionado nem sempre era o mais evoluído. De destacar também a crónica do Paulo Trezentos (um "must read"!!!), onde são abordados diversos assuntos da actualidade sempre com uma atitude construtiva e educativa.



Apesar de todos estes elogios, ultimamente as coisas estão a mudar e não estou a falar dos bonitos background do Windows. Estou a falar mais concretamente dos artigos que a vossa redacção tem publicado onde o Linux está de forma errada e falsa a ser atacado semanalmente. Estou-me a referir especificamente aos artigos do Sr. Paulo Silva nos suplementos Nº 86 e 87 e no artigo do Sr. Miguel Mota Veiga no suplemento Nº 91. O Sr. Paulo Silva claramente não sabe do que está a falar quando fala do Linux. Ainda comecei a redigir uma carta em resposta aos seus artigos mas desisti. As suas verdadeiras intenções destacaram-se facilmente nos seus artigos e um outro leitor já comentou estes artigos no suplemento Nº 90. O movimento Open Source está a "mexer no seu queijo" e o Sr. Paulo Silva começa a ficar preocupado. O seu negócio perde clientes e dinheiro sempre que alguém troca o Windows por outra coisa qualquer. Não é? E sendo assim toca a imitar a Microsoft e iniciar uma campanha de desinformação e calúnia (http://www.microsoft.com/portugal/factos/).



A comunidade Linux sempre soube que a Microsoft dominava o mercado desktop. Com esta campanha, a Microsoft assume oficialmente o Linux como um concorrente válido e faz mais pelo Linux do que milhares destes artigos como o meu. A Caixa Mágica tem um esclarecimento que vale a pena ler em http://www.caixamagica.pt/pag/f_notc00.php?id=68. Voltando ao artigo do Sr. Paulo Silva, nem tudo é mau, gostei muito do artigo que este escreveu no suplemento Nº 91. Muito cómico. Será que ele se apercebeu da imagem que deu da sua empresa à comunidade? Inconscientemente teve receio de inserir disquetes infectadas na sua máquina (que ao contrário de um sistema Linux, SARCASMO!!!) estava super protegida com o seu software Panda.



Relativamente ao artigo do Sr. Miguel Veiga, confesso que estou confuso. O artigo aparentemente parece estar escrito de forma a incentivar os leitores a experimentarem o Linux, no entanto na realidade está a confirmar as falsas alegações do Sr. Paulo Silva de que o Linux é tão ou mais inseguro que o Windows. Isto parece-me uma enorme conspiração para tentar equilibrar a balança a favor do Windows. Além disso, se eu fosse um leitor interessado, tinha desistido quando chegou à parte de recompilar o Kernel! Ou configurar uma firewall! São essas as instruções que se fornecem a quem quer experimentar o Linux pela primeira vez? Se o leitor ainda estava minimamente interessado, com este artigo de certeza que desistiu. E com razão.

Recentemente li um artigo (perdi a referência. Será culpa do Linux?) que afirma que convencer utilizadores a mudar de sistema operativo é como convencer os Franceses a mudar a sua língua natal para o Alemão. Não concordo totalmente com esta análise. Falo, escrevo e leio em português mas também faço estas coisas em Inglês. Quando preciso de escolher uma língua para iniciar um novo projecto, escolho a mais adequada para o trabalho em questão. Quem diz língua, diz ferramenta ou sistema operativo. Nesta questão gosto sempre de parafrasear o criador do Kernel do Linux, Linus Torvalds: "Querem usar, usem! Não querem usar, não usem! Mas não me chateiem...". E embora concordando com esta afirmação, não consigo ficar calado com as injustiças que estes três artigos afirmam.

Em relação aos mitos, que o artigo do Sr. Miguel Veiga refere, muito se tem dito. Quem estiver interessado pode ler um artigo com os argumentos bem fundamentados e diversas referências em http://www.theregister.co.uk/security/security_report_windows_vs_linux/. Destaco deste artigo apenas os seguintes aspectos: Costuma dizer-se que o Linux não tem vírus porque são poucos os utilizadores e os criadores de vírus não se dão ao trabalho. Falso! A percentagem de servidores Linux na Internet, com o servidor web Apache, ascende a mais de 68%. A Microsoft tem apenas 21% deste mercado. Portanto existem máquinas para infectar. Além disso, só recentemente o Windows evoluiu do modelo de utilizador único para um sistema multi-utilizador. Os *nixes (*nix={Linux, Unix}) foram desenvolvidos com este requisito desde o início estando, por isso, num estado muito mais evoluído de maturação. Já existiam servidores ligados em rede hà muitos anos antes de aparecer a Microsoft com o seu "windows em cada secretária" sem conectividade e dedicada ao objectivo de fidelizar clientes, mesmo à custa de outros objectivos como segurança. No entanto o Sr. Miguel Veiga afirma que segundo um estudo é no software Open Source que se encontra o maior número de falhas. Onde estão as referências? Gostava de saber se este estudo é independente ou foi "patrocinado" pela Microsoft. Na realidade o código aberto permite que mais pessoas estejam atentas a potenciais bugs, que estes sejam corrigidos e as correcções partilhadas mais rapidamente. No código proprietário não se encontram tantos bugs porque não se pode ter acesso a ele mas, parafraseando o Sr. Paulo Trezentos, "um bug, lá por não ser descoberto, não significa que lá não esteja, pois não?". Se assim não for como é que se justificam os tão famosos e numerosos "blue screens" do Windows. Quem estiver interessado em ler um artigo que curiosamente afirma o contrário pode fazê-lo em http://news.zdnet.com/2100-1009_22-5489804.html. Apenas por curiosidade, deixo aqui uma nota: a revista WindowsITPro aconselhou, na sua edição de Junho de 2005, os seus leitores a utilizar o Firefox devido a problemas de segurança no Internet Explorer.

Depois de ter assustado os leitores com diversos aspectos de segurança, o artigo do Sr. Miguel Veiga oferece o exemplo da fragilidade da password. Interessante... se a minha casa tiver uma fechadura de código, e eu definir como acesso o ano do meu nascimento, quando chegar a casa posso não ter recheio. Devo culpar a empresa que fez a fechadura? Este exemplo não serve para qualquer sistema operativo? Se eu abandonar o meu posto de trabalho num local público com a minha sessão aberta, não corro o risco de alguém remover todos os meus trabalhos? Posso utilizar este exemplo para denegrir a imagem do sistema operativo X ou Y? Não me parece.

Se conseguiu ler até aqui é porque o tema lhe interessa. Depois de tudo o que foi dito, quer descobrir por si mesmo quem é que realmente tem razão? Passo a descrever um teste que pode fazer em casa, desde que tenha duas máquinas ligadas em rede:

1. Na sua máquina de trabalho instale o Nessus (http://www.nessus.org/download/). Este programa procura vulnerabilidades noutras máquinas a que consiga aceder por rede e existe para sistemas *nix e Windows.

2. Desligue a outra máquina de rede. Instale nessa máquina um dos sistema operativo que quer testar. Não faça escolhas personalizadas. Deixe que o programa de instalação utilize os valores por omissão. Se tal não for possível, faça as opções de forma consistente em ambos os sistemas operativos tentando sempre ser o mais justo e honesto possível. Depois do sistema operativo instalado ligue a máquina em rede apenas com a máquina que tem o nessus instalado. Não a ligue à Internet ainda, pois estamos a testar vulnerabilidades no sistema operativo e não queremos interferências de vírus e spyware.

3. Ataque a máquina utilizando o nessus. Guarde os resultados.

4. Ligue a máquina à Internet e aguarde 30 minutos. Desligue-a da Internet e verifique se esta tem vírus ou spyware (Pode utilizar o ClamAV que tem versões para dezenas de sistemas operativos e pode ser obtido gratuitamente em http://www.clamav.net/binary.html).

5. Volte a atacá-la com o nessus. Guarde os resultados.

Repita estes passos com os restantes sistemas operativos que quer testar: Windows, Linux ou Mac. Quando estiver a instalar o Linux (vai-se aperceber que este até é bastante fácil de instalar) vai chegar a uma fase em que o programa de instalação lhe vai perguntar se quer activar uma firewall. Responda o que quiser. Se quiser, efectue o teste sem firewall. No final compare os resultados.

Então? Quem tinha razão? Os testes podem ser repetidos depois de terem sido feitas as actualizações de segurança e activadas as respectivas firewalls. Menos assustado em relação ao Linux? A ideia é mesmo essa. Não se admire se receber alguns avisos nos relatórios de segurança do Linux. Infelizmente, hoje em dia, algumas distribuições estão com demasiados serviços activos por omissão. Não se preocupe, podem ser facilmente desligados utilizando um utilitário gráfico ('system-config-services', por exemplo). Um dos mais inseguros serviços de rede, é sem dúvida o RPC (Remote procedure call) e infelizmente costuma estar activo tanto no Linux como no Windows. Com uma enorme diferença: no Linux pode-se desligar, facilmente e sem causar problemas ao resto do sistema, no Windows não pode, a não ser que queira perder toda a conectividade. Uma estatística interessante, da qual já fui vítima, é que uma máquina com Windows ligada à Internet demora em média 12 minutos a ficar infectada com vírus ou spyware. Talvez por isto (e pelos blue screens sem dúvida) é que o Linux é mais utilizado em aplicações críticas, em centrais nucleares ou em investigação, para citar apenas alguns exemplos.

Outro aspecto que me irritou nestes artigos é o facto de darem a ideia que os utilizadores de Linux precisam de ser gurus para poderem utilizar este sistema operativo. Para utilizar o Linux, no mínimo preciso de saber: como este é construído, como se processam os ataques pela rede, como compilar um kernel, como ligar uma firewall, como verificar vírus, worms e spyware (SARCASMO!!!). No Windows aparentemente não preciso de saber nada. Qualquer macaco amestrado consegue "Instalar o Windows, actualizá-lo e complementá-lo com um bom pacote de segurança". Já agora, se é melhor não devia já trazer estas coisas de origem? O Sr. Miguel Veiga diz para mantermos os olhos postos em websites de segurança pois todos os dias são descobertos novas falhas. Bom conselho, mas porque motivo isto não é dito também aos utilizadores do Windows? O Windows está igualmente sujeito (se não mais) a falhas. Correndo o risco de estar a ser chato, vou fazer referência a mais uma frase do artigo Nº 86 do Sr. Paulo Silva: "...e, se os seus conhecimentos não forem suficientes para instalar e fazer funcionar correctamente uma distribuição Linux, o melhor é esquecer este sistema operativo. Instale o windows, ...". Certo. E não se esqueça de comprar o anti-vírus Panda. Não é? "O que tu queres sei eu...". E se os seus conhecimentos não forem suficientes para instalar e fazer funcionar correctamente um Windows XP? Vai fazer o que? Eu recomendo que volte a utilizar lápis e papel. Nem tente aprender coisas novas. Quanto menos souber melhor!

Agora que já disse o que precisava, vou esclarecer alguns aspectos do Linux. É um facto que a curva de aprendizagem do Linux é mais lenta. Mas como disse um colega meu para os seus botões, "É pá!!! Isto depois de se perceber, é uma maravilha.". Este colega trabalhou a vida toda com Windows e recentemente decidiu experimentar o Linux Fedora Core. Hoje em dia trabalha com os dois sistemas. Da segurança não falo mais. As referências fornecidas assim como os resultados dos testes descritos acima (se os fez) devem ter sido suficientes. É um facto que todo o software tem bugs não sendo o Linux uma excepção, no entanto é preciso avaliar, além da quantidade, a gravidade desses bugs. Isso é bem explicado numa das referências já mencionadas. É um facto que devido à utilização histórica dos *nixes, estes são mais indicados para servidores do que para máquinas de secretária. Será? Nos últimos anos temos assistido a uma evolução muito grande também na área do desktop. O Linux cada vez é mais fácil de instalar, cada vez suporta mais hardware e cada vez tem um sistema de janelas mais funcional. Tudo o que possa querer fazer noutro sistema operativo, também pode fazer utilizando Linux: Office, correio, Internet, gravar CDs, ouvir música, ver filmes, etc. Existe ainda uma área em que o Linux não consegue competir com outras plataformas: os jogos. Se a única coisa que faz com o seu computador é jogar, então fique-se pelo Windows... mas desligue-o da Internet. Mas mesmo nesta área, nota-se evolução e cada vez aparecem mais títulos para Linux. Alguns pagos, outros não, como por exemplo O Quake, O Civilization, etc. Existe ainda outra solução, é paga e ainda não experimentei mas parece estar a fazer muito sucesso. É uma tecnologia que permite jogar os jogos do Windows em Linux. Quem estiver interessado pode dar um salto a http://www.transgaming.com/products_linux.php.

Em relação a experimentar o Linux ou não, faça como entender. Mas deixo as seguintes dicas. Se quiser experimentar o Linux sem ter de o instalar basta descarregar da Internet um ISO do Knoppix disponível gratuitamente em http://www.knoppix.org/. Grave um CD com esse ISO e arranque o computador com ele. A performance não é tão boa porque funciona a partir do CD mas permite ver um Linux a funcionar ao vivo. Verifique o número de aplicações Open Source incluídas navegando nos menus existentes. Vai encontrar aplicações para todas as tarefas costumeiras e ainda pode ter algumas surpresas agradáveis. Por exemplo, sabia que o Open Office tem uma opção para exportar documentos directamente para PDF? Sabia que com o K3b pode gravar CDs e DVDs tal e qual como faz com o Nero? Se estiver ligado em rede, o Knoppix obtém um número IP automaticamente. Além disso consegue aceder aos seus discos internos permitindo assim abrir os seus trabalhos no Open Office. Não desligue sem experimentar o jogo frozen-bobble. Vai ver que vale a pena. Para voltar a ter a sua máquina como estava antes basta fazer um reboot. Nada de novo...

Se quiser realmente instalar uma distribuição Linux, pode escolher uma a seu gosto em http://iso.linuxquestions.org/. Existem imensas. Não se deixe confundir pela quantidade, são como os carros. Têm 4 rodas e por dentro funcionam todas da mesma maneira. Se optar pelo Fedora Core 4, existe um óptimo manual de instalação no endereço http://fedora.redhat.com/docs/fedora-install-guide-en/fc4/. Descarregue o ISO do DVD ou os ISOs dos Cds, grave-os e arranque o computador com o primeiro CD/DVD. Ninguém nesta fase está à espera que saiba fazer tudo bem. Enganou-se? Comece do início. Não percebe uma das fases? Aceite os valores por omissão e avance sem medo. Com o tempo estas questões irão sendo resolvidas. A Internet é uma enorme fonte de soluções para possíveis problemas. Vai ver que o Linux ainda é mais fácil de instalar que o Windows... e não pede números de série. E não se preocupe. Há mais de 3 anos que não recompilo um Kernel
;). Para quê? Quando são lançadas actualizações posso instalá-las utilizando o comando 'yum' (ou 'kyum' em modo gráfico). Para configurar a firewall (depois da instalação) existe o utilitário gráfico 'system-config-securitylevel'. Na lista das distribuições mais populares vai reparar que em primeiro lugar está o Mandrake (recentemente mudou o nome para Mandriva). Esta distribuição garante um interface muito user-friendly e as versões mais recentes de todos os programas. Se optar por esta distribuição pode efectuar actualizações com o comando 'urpmi' e pode configurar a firewall com o utilitário gráfico 'drakfirewall'. Além disso, no Mandriva, tem à sua disposição um Painel de Controle integrado com todas as configurações do computador. Também não precisa de se preocupar com os estranhos nomes dos utilitários, estes estão todos bem arrumados e acessíveis via menus. E não se esqueça que o Linux tem o melhor manual técnico do mundo disponível em www.google.com/linux.


Rui Gouveia (rgouveia _at_ fc.up.pt)
Mestre em Informática - Ramo de Sistemas e Redes pela FCUP
Actualmente a trabalhar em administração de sistemas e redes na
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.