domingo, novembro 05, 2006

Licenças OEM da Microsoft... outra vez...

A todas as marcas de computadores, distribuidores e lojas revendedoras associadas.

Meus senhores,

Tenho uma questão para vos colocar, relativamente à vossa actual política de venda de hardware. Quando visito as vossas lojas ou os vossos websites, deparo-me sempre com o seguinte cenário:

"A marca (inserir aqui a vossa marca) recomenda o Windows XP ..."

e/ou

"Todos os computadores (inserir aqui o modelo) são comercializados com o Sistema Operativo Microsoft Windows XP Home Edition Português VERSÃO GENUÍNA!"

O problema é que utilizo Linux e fico um pouco preocupado, e até ofendido, com o facto de, como cliente, estar a ser marginalizado, e de ter de pagar, indevidamente, uma licença para um produto que não utilizo (nem quero utilizar).

Eu gostava de poder exercer a minha liberdade de decidir qual é o sistema operativo que quero utilizar no meu novo computador. Afinal não vivemos num regime ditatorial em que o estado (ou empresa neste caso) decide por mim a minha vida.

Além disso, não tenho interesse em usufruir dos fantásticos serviços de assistência da Microsoft e não quero que esta me proteja contra software pirateado que eu não utilizo.

O que eu queria mesmo era poder comprar uma máquina sem ter de passar por esta idiotice de cada vez que o faço. Afinal de contas, a Galp não decide por mim qual é o carro que eu tenho de comprar. A Opel não decide por mim qual é o combustível que eu tenho de utilizar. A EDP não escolhe os electrodomésticos de minha casa. Porque raio vem agora a Microsoft tentar decidir qual é o sistema operativo que eu utilizo numa máquina que ela não produz, não distribui e não vende? Como se não houvesse alternativas?

Eu sei que a Microsoft só está a tratar dos seus interesses. No entanto, a liberdade individual dos cidadãos não pode ser posta em causa por causa de interesses comerciais de uma empresa. Além disso, por mais ridículo que possa parecer, todo este controle apertado (leia-se: caça
às bruxas) é devido (alegadamente) à pirataria informática. Pois bem, o meu Linux é legal! Não tenho o direito de o utilizar?

Eu não utilizo produtos Microsoft! Não contribuo para o enriquecimento do Sr. Bill Gates! Não contribuo para a saída de divisas do país e, consequentemente, não contribuo para o enriquecimento de uma empresa estrangeira! Sou, por causa disso, um mau cidadão? Por causa disso, perco os meus direitos aos olhos da lei? Porque acordei e abri os olhos, deixei de merecer consideração? E a lei da concorrência? Que é feito dela?

Onde é que está, no mercado nacional no geral e nas vossas empresas em particular, a possibilidade de utilizadores e administradores de sistemas baseados em outro qualquer sistema operativo livre, poderem adquirir hardware para estes sistemas?

Lembrem-se que mais de 60% dos servidores web de todo o mundo são instalados com Linux+Apache. Será justo que a Microsoft venda licenças nestas máquinas?

Gostaria imenso que neste país houvesse alguém que tivesse respeito e consideração pela minoria que não utiliza Windows.

Bem, fico por aqui. Agora vou comprar um carro... espero que não venha com uma licença pré-paga obrigatória da Brisa. É que só utilizo o carro para ir às compras ao fundo da rua...

2 comentários:

Anónimo disse...

Estou totalmente de acordo contigo , mas e há sempre um mas , a culpa tb passa por quem desenvolve o Linux e por quem fabrica o hardware , quando comprei o meu ultimo portátil um Asus A6J , vinha com o Windows MCE (Media Center Edition) , claro que não pedi isso , mas pronto ja falas-te sobre o assunto , no meu anterior portátil já com uns anitos tinha o Ubunto instalado , 5 estrelas tudo a 100% , recebi este peguei no CD do Ubunto e pronto , Linux on-line , mas depois maior parte dos extras que o portátil traz não funcionavam , ora la se tem que andar as marteladas ao sistema , e porque , porque nos CD´s que vêem com o portátil so traz driver´s para windows , mais nada , ora a culpa também passa por ai , e um user normal , nem sabe os que são os driver ........

Rui Gouveia disse...

Saudações,

Para começar, acho que culpar a comunidade Linux por dificuldades do sistema operativo em si, não me parece justo. O que temos hoje em dia é devido ao fantástico trabalho colaborativo das comunidades de software livre, e temos muito a agradecer a muitas corajosas e dedicadas pessoas.

Além disso, apesar de no desktop as coisas não estarem perfeitas, em outras áreas o Linux domina, nomeadamente:

* mercado de servidores;

* produtos móveis como telemóveis (em 2005 o Linux já ia à frente com 25% do mercado contra 17% da microsoft);

* clusters e grids (aqui a Microsoft nem entra, 0% segundo as estatísticas mais recentes contra mais de 85% do Linux);

* produtos chave na mão.

Infelizmente, neste momento, ainda temos que lidar com a desagradável realidade de nem sempre podermos comprar o computador mais recente, pois o mais certo é que o Linux não reconheça todos os seus componentes. O problema não é do Linux. Dos fabricantes, talvez. Do ponto de vista comercial temos de os compreender. Trabalham primeiro, ou apenas, para a plataforma mais rentável. Portanto, a minha conclusão é que, se não houvesse este império microsoft, o suporte dos fabricantes teria de ser obrigatoriamente melhorado. Contudo, os fabricantes não estão isentos de culpa. O Linux, para reduzir as dificuldades dos utilizadores, tenta inclui no kernel o maior número possível de drivers (questões sobre drivers proprietários no kernel à parte). Para que isto seja possível, as especificações do hardware têm de ser conhecidas, o que nem sempre é disponibilizado pelos fabricantes, sendo necessário recorrer a engenharia reversa. Portanto, temos dois problemas:

1. Os fabricantes não trabalham em conjunto com a comunidade de software livre, como fazem com a microsoft, de modo a que os sistemas operativos estejam preparados aquando do lançamento dos seus produtos, provocando deste modo uma latência grande desde o seu aparecimento no mercado e a sua possível utilização pelo Linux, de forma simples para qualquer utilizador.

2. Mesmo depois do lançamento no mercado, alguns fabricantes insistem em manter as especificações técnicas em segredo o que aumenta ainda mais a latência da disponibilidade em Linux, isto partindo do princípio que se consegue criar um driver com engenharia reversa.

Mas as coisas estão a mudar... pelo menos fora de Portugal. Grandes empresas, não directamente ligadas ao Linux, estão a dar o seu suporte ao Linux, nomeadamente, Intel, IBM, Novell, Motorola, Nokia, NVIDIA, ATI, etc. As previsões apontam para que daqui a 5 anos o Linux atinja os 10% no mercado de desktop, o que quer dizer, em termos comerciais, que a plataforma pode ser rentável para vários produtos que até aqui têm sido negligenciados como, por exemplo, os tão apetecidos jogos.

Para terminar, o Linux não pode ser visto apenas como um substituto gratuito de um sistema proprietário. O Linux não serve apenas para poupar dinheiro em licenciamento. O Linux é muito mais que isso. O Linux (entre outros sistemas livres), neste momento, é uma forma de exercermos a nossa liberdade num sistema comercial que favorece monopólios cujos objectivos financeiros estão acima dos seus próprios consumidores. A liberdade não é fácil de manter, e nem sempre é confortável e fácil de exercer. Historicamente guerras foram travadas para a manter ou recuperar. Se para exercer a minha liberdade tenho de perder a preguiça natural e aprender como funciona um novo sistema ou simplesmente procurar alternativas, então é o que farei. E estou a fazê-lo desde 1990.

Relativamente aos restantes utilizadores, muita coisa mudou desde 1990, e muita continua a mudar. Pelas previsões apresentadas, dentro de 5 anos também eles poderão ter uma experiência gratificante, e sem problemas, com Linux. Pelo menos, assim espero.

Já agora, um utilizador pouco conhecedor nem sabe para que serve o botão direito do rato ;) quanto mais um driver.